Cursos da área de saúde promovem ação integrada de atendimento às crianças da Ilha das Onças
3 de maio de 2022
Acadêmicos de Odontologia orientam sobre a importância de escovar os dentes corretamente. Foto: Caroline OliveiraA Ilha da Onças, localizada no município de Barcarena, recebeu no último sábado (30), uma ação integrada em saúde, promovida pelos cursos de Nutrição, Fisioterapia, Farmácia, Enfermagem, Odontologia, Medicina e Psicologia do Cesupa. A programação celebrou o Dia Mundial da Saúde, comemorado em 7 de abril, e marcou a retomada das atividades de extensão junto às comunidades, após a suspensão por conta da pandemia do covid-19. Ao todo, foram realizados 60 atendimentos para crianças e adolescentes, na escola municipal prefeito Laurival Cunha, além de ações educativas direcionadas aos pais e responsáveis.A relação do Centro Universitário com a Ilha das Onças começou em fevereiro de 2022, por meio do curso de Ciência da Computação. Através da disciplina de Projetos Integrados, iniciou-se um trabalho de mapeamento das principais dificuldades da comunidade, para buscar o desenvolvimento de projetos que envolvam a tecnologia da informação e que tenham utilidade prática, impacto social e que sejam auto sustentáveis operacionalmente. A partir da pesquisa, constatou-se que muitas famílias da comunidade Usina Vitória vivem em situação de insegurança alimentar, especialmente no período de entressafra do açaí, principal fonte de renda local.“A insegurança alimentar é quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente de alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência. Nessa situação, um (ou mais de um) membro da família deixa de se alimentar para que outro possa ter acesso ao alimento ou reduz-se o número de refeições por dia, para que todos possam comer”, explicou a coordenadora do curso de Nutrição e uma das responsáveis pela ação em saúde, professora Daniela Gaspar.Além dessa questão, outro dado apontado pela própria comunidade é a dificuldade de acesso às consultas com médico pediatra, já que a Unidade de Saúde mais próxima conta apenas com atendimento realizado pelo Médico de Família e Comunidade. “O objetivo da ação é garantir que as crianças tenham não só o atendimento médico especializado, mas possam receber atendimentos de diversos profissionais de saúde" e tenham também, um momento de alegria e descontração”, frisou Daniela.Atendimentos - Moradora da Usina Vitória e Agente Comunitária de Saúde (ACS) desde 2019, Mary Bahia recebia e anotava o nome de todas as crianças que chegavam à escola e as encaminhava com entusiasmo, para a sala de triagem, onde eram recepcionadas pelos alunos de Enfermagem do Cesupa. “A gente (da comunidade) sempre brinca que somos esquecidos, mesmo morando em frente de Belém. Estamos tão perto, mas tão distantes. Então, essas ações que chegam para a nossa comunidade são importantes porque trazem equipes especializadas e outros conhecimentos que eu posso repassar nas minhas visitas como ACS, para alguém que não pode vir hoje, por exemplo”, disse.Na consulta de Enfermagem realizada pelos acadêmicos, os responsáveis recebiam esclarecimentos quanto ao esquema vacinal da criança e sobre o crescimento e desenvolvimento dos pequeninos, no que diz respeito à estatura, perímetro cefálico e abdominal e outras características. Logo depois, os pequeninos passavam pelo exame atento dos pediatras e estudantes de Medicina, que ouviam as dúvidas de mães e responsáveis e também prestavam as devidas instruções.Quem precisou de medicação foi conduzido à sala do curso de Farmácia e, caso o medicamento prescrito estivesse disponível, já poderia receber as orientações de uso e sair do local com o remédio em mãos. “Os principais medicamentos dispensados são aqueles para o tratamento de doenças respiratórias e verminoses, já que a comunidade tem dificuldade no acesso ao sistema de esgoto e tratamento de água. Também falamos sobre a prevenção a essas doenças, por meio de jogos, com as crianças e sobre o uso correto dos medicamentos para os pais”, descreveu a coordenadora do curso de Farmácia, professora Andréa Diogo.Nascida na comunidade, a dona de casa Shirley Bahia levou os filhos Samuel, de 7 anos, Mateus, de 6 anos, e Pedro, de 3 anos, para receber o atendimento pediátrico. Apesar do acompanhamento mensal na Unidade de Saúde, as duas crianças menores nunca haviam sido consultadas por um especialista infantil. “Eu tinha muitas dúvidas sobre alimentação e anemia, porque pensamos que o filho saudável tem que ser gordo. E na conversa com o pediatra, ele me orientou que é diferente. Percebi que mesmo magrinhos, os meus filhos são saudáveis. A gente quer o melhor pra eles, que eles tenham aquilo que não tivemos”, frisou.Cuidados - Na sala de Psicologia, alunos do 5º e do 7º períodos, acompanhados da professora Mariana Mendonça e da coordenadora do curso, professora Nilzabeth Coelho, realizaram duas atividades lúdicas preventivas, sendo uma para as crianças, que identificavam as partes do corpo e as áreas que podem ou não se tocadas por outras pessoas. Já com os adolescentes, um bate-papo descontraído abordou os relacionamentos abusivos e como identificá-los.Enquanto um grupo de estudantes de Fisioterapia fazia a avaliação do desenvolvimento motor infantil, que qualifica se o crescimento da criança se adequa à idade e às atividades que ela realiza; outra equipe acompanhava os pequeninos em atividades de estimulação psicomotora, que incluíam o manuseio de blocos de encaixar, pular amarelinha e passar por obstáculos. A aluna do 5º semestre de Fisioterapia, Hanna Cavalcante, participou pela primeira vez de uma ação em uma comunidade externa e estava radiante com a experiência. “Ver a alegria de uma criança não tem preço e, com certeza, foi uma manhã de muito aprendizado pessoal e profissional”, avaliou.No escovódromo da escola, os acadêmicos de Odontologia ensinavam, com um boneco de pelúcia, a maneira correta de escovar os dentes, e depois auxiliavam meninos e meninas a fazerem a higiene bucal completa. Com um violão em mãos, o professor Aluísio Celestino usou paródias de músicas atuais para conscientizar as crianças sobre a importância de cuidar dos dentinhos. Cássia Luna, que cursa o 3º semestre do curso, relatou, com emoção, a experiência na ação.“É muito incrível ter esse contato, conhecer realidades diferentes e perceber que algumas situações que, para nós, são muito simples, para eles são uma vivência única. Como futura profissional da saúde, entendo que eles precisam estar imersos nesse universo, que é um direito deles e, é nosso dever oferecer um serviço de qualidade, dando o nosso melhor. Com certeza, o dia de hoje me permitirá ser mais humana no atendimento e me fazer mais próxima do ser humano”, refletiu.Os alunos e egressos que atuam no projeto NutriAção, do curso de Nutrição, ofereceram atividades para adultos e crianças. Para as mamães, explicações sobre a amamentação e alimentação complementar. Para os pequenos, jogos de adivinhação e de verdadeiro ou falso ensinavam a identificar os alimentos e seus benefícios. A especializanda em nutrição integrativa clínica funcional e materno infantil, Arielle de Andrade, se formou pelo Cesupa em 2021 e fez questão de participar da Ação em Saúde. “Fico muito feliz em saber que a instituição dá a oportunidade de continuar a colaborar com as ações, após a conclusão do curso. É muito gratificante contribuir com o nosso conhecimento e agregar valor para essas famílias”, reforçou.Extensão - A extensão universitária diz respeito a todas as atividades promovidas por instituições de ensino superior, destinadas à interação com comunidade na qual está inserida. O objetivo principal da extensão é a troca de conhecimentos, a prestação do serviço à sociedade e o desenvolvimento dos aprendizados dos estudantes. No Cesupa, desde 2002, atividades como essas são estimuladas em todos os cursos de graduação, inclusive, promovendo a integração entre disciplinas ou entre cursos, como é o caso da ação integrada em saúde.“O primeiro ganho é os alunos saírem da bolha, lidar com realidades extremamente diferentes que, provavelmente, não encontrarão em outros locais. O segundo ponto é incentivar o protagonismo do aluno, uma vez que todas as atividades são organizadas e planejadas por eles e os professores atuam na orientação e em casos que precisem de intervenção. O terceiro benefício para o aprendizado é a vivência da interdisciplinaridade, perceber que o trabalho da Medicina depende da Enfermagem e da Farmácia, por exemplo”, concluiu a coordenadora da ação, Daniela Gaspar.Texto: Gisele Nogami03 de maio de 2022